terça-feira, 29 de abril de 2008
Cidadãos do mundo, sim. Cidadãos da eurabia, não.
A Europa vive imersa no relativismo epistemológico – nenhum mal. E na sua versão bastarda. O relativismo moral – um mal. Convêm notar, relativismo epistemológico e o relativismo moral, embora de braço dado, não se equivalem. Podemos compreender os particularismos culturais: a sharia, o apedrejamento até à morte, a excisão feminina, o canibalismo, a poligamia de extracção islâmica. Mas fora da academia não nos merecem mais do que o nosso asco. Mas vivemos numa sociedade à deriva, mutilada nos valores, “sem padrões morais substantivos, cuja única convicção moral é a negação de padrões e a perseguição intelectual a quem os tem.” Como reconhecia Popper sob o olhar atento de João Carlos Espada. O relativismo em pleno oceano da ciência social – mares que eu não navego – postula uma abertura total face à natureza e aos fenómenos do jogo social e das experiências humanas. Há um significativo contraste entre a humildade aparente do relativismo da sua arrogância pedante. O relativismo rejeita o absolutismo inseparável do ocidente. Enfrenta a possibilidade de uma ética racional e universal de um direito comum, com indignação ou desprezo, e acusa o iluminismo de provincianismo – ai as luzes oh esquerda. E é aqui que o relativismo moral desaba em escombros. Como já tinha escrito, “as sociedades ocidentais são compostas de criaturas estranhas meramente unidas na barca do destino pela obediência a um território e a uma constituição universal escrita sobre o direito natural em que o indivíduo é a indispensável âncora.” Continuando, “a chegada de comunidades de imigrantes que clamam legitimamente pela sua identidade encontram abrigo sob o manto do relativismo que lhes clamam o privilégio da integração”. Larga parte da inteligência europeia, contaminada pelo vírus do pós-modernismo, pelo orientalismo de Said, pela escola estruturalista, pode tratar ao pontapé a “identidade civilizacional”, o direito natural, o progresso – é o que dá quando se viram para Fichte. Mas aquilo que nos faz – ainda que muito vagamente – civilizados, mora em outras paragens, não na submissão absoluta mas numa prudente escolha. Ao fim do dia as sociedades pedem um lastro moral comum. A questão da moralidade em política é problematica, armadilhada sem duvida, mas morais substantivas que nos são alheias, pedem leis que nos são alheias. Por favor, cidadãos do mundo, sim. Cidadãos da eurabia, não.