Os movimentos radicais de esquerda desde da Bastilha têm como cimento ideológico o chamamento implacável para a violência. Para o delírio utópico a verdadeira democracia está nas ruas, e nos actos da plebe. Tudo o resto é, notem bem, ilegítimo – a começar pelas decisões fundadas na legalidade do estado de direito e na alternância dos detentores de cargos públicos que as apadrinham.
O ecoterrorismo em Silves não trás nada de novo e atira-nos para os movimentos chamados altermundialistas cuja obediência é unicamente rendida aos lugares-comuns da estratégia dos esquerdistas reciclados e da maioria das ONGs. Os jovens que estão contra a globalização, contra a guerra, e contra o milho transgénico são na verdade ideologicamente velhos, são os soldados desarrumados do exército comunista arrumados numa nova cruzada contra o capitalismo, a América e o liberalismo embrulhado num pacote radical-chic apostada em dizer ao mundo mais uma vez que o “bem” está com eles e que a expressão de actos contrários aos seus slogans constitui um crime punível com vandalismo.
A minha preocupação teria a duração efémera das rosas de Mallesherbes, não fosse, neste caso, a organização que conspira e destrói a propriedade privada, que o estado tem a obrigação de proteger, gozar o apoio financeiro e a conivência das forças que dão musculo ao estado. A visão das luzes e a lei romana legou-nos os mecanismos que permite prevalecer ideias pela via da persuasão e da escolha em eleições livres ou pela disputa judicial em tribunal, que os ecofanáticos as ignorem não me aborrece, que o próprio estado esteja disposto a marchar no desvario, é de levar o cidadão a pensar que os seus impostos estão nas piores mãos possíveis e que qualquer lunático ao abrigo das virtudes da moda os pode legitimamente colher.
No mundo ideal dos ecofundamentalistas onde não houvesse McDonald nem Monsanto ou a Microsoft, talvez o homem – preferencialmente de cabeleira “rasta” – possa estiolar revolucionariamente de tédio respirando o ar puro dos campos estrumados mas terá de punir, pela sua simples condição de ser humano, quem não caiba na cinta ideológica. E esse é o papel dos totalitários de todos os tempos.
In Atlantico, Outubro 2007