sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

Das certezas

A ver se me explico. Estamos - nao muito - distantes da melancolia existencialista em Beckett e da desolaçao oitocentista. Convem cavar mais fundo, o nosso personagem, inabil penitente, hesita entre a angustia e a auto-culpa, a incomunicaçao e o medo. Os demonios sao eloquentes. Como Malone - condenado à vida - sabe que é imperioso continuar e como Mishima que nao há retorno e o fim chegou. A vida é uma contradiçao e toda existencia humana patetica. A puniçao está na vil consciencia e a melancolia aqui é insulto - porque luxo de poucos. É algo mais subterraneo, um desespero a lume brando que calcina por dentro e desverbaliza (desumaniza) por fora. Como as personagens de Primo Levi, um punhado de aleijoes desfigurados na carne e na alma pela vida e pela morte. A literatura nao salva apenas adia o dia do juizo final. É isto. É isto.

In stereo

PS é provavel que haja mais do que uma ainda que nem de só uma estou certo