Ando literalmente às voltas com o “Império” de Hardt e Negri. De norte a sul, e de sul a norte com o alto-patrocinio da CP. Estou rigorosamente na página 184. Pondo de lado um sub-capitulo praticamente no inicio onde o leitor lamenta não falar a língua que para o caso até podia ser o cantonês o livro é acessível. Mas o império vive de abusos, e tortura paulatinamente o leitor até à loucura com a lógica ilógica de que o indivíduo atolado na multidão o que quer mesmo é pôr um fim aos grilhões que o prendem à mecânica das escadas do poder. O poder nunca é total e vive de compromissos esteja o súbdito aos pés do autocrata ou à mesa do democrata. O poder não vive na estratosfera celeste de onde entre raios e trovões faz “politica” e ordena a sociedade. Tal poder não é político mas divino. Neste reino o poder é mediado, circula horizontal e verticalmente. Mas o império anda nas fronteiras entre o delírio e a lucidez. Na estrada amarela onde Alice meet Negri as muralhas espessas que separam a tirania do soberano que escala ao poder no meio de cadáveres e a tirania do soberano que sobe ao cume entre sufrágios desfazem-se a golpes de retórica. Para Negri tudo é politica e nada é politica, e é assim que deve ser celebrada, desde o amanhecer até ao crepúsculo, num frenesim totalitário. O papel das tiranias partilhadas é justamente retirá-la das nossas vidas. A politica no seu sentido estrito serve para separar a sociedade do estado. Onde não existe o processo politico de partilhas tudo é politico porque nada é politico. Onde não há a democracia formal tudo o que acontece diz respeito a quem está no poder uma vez que tudo representa para este uma ameaça potencial. De Cuba ao Paquistão os súbditos são todos escravos da ausência de um processo de partilhas de planos de poder e todos - sob estrita vigilancia - são a derradeira ameaça.