sexta-feira, 23 de novembro de 2007

Misantropo, confesso-me

A misantropia é uma filosofia de vida que a bem do convívio social se esconde. Menos que condição, fealdade com procuração de sociopatas e carrancudos. Aqui não se pratica um ódio à humanidade, que é barroco, mas uma monumental indiferença, não pelos destinos, mas pela troca amiúde de palavras e crónicas sobre o tempo que é uma porcaria, a qualidade do meio campo ofensivo do Sporting ou preocupações que pastoreiam a vida mortal dos mortais, apenas intervalada pelas necessidades perenes e utilitárias da espécie. Já Almada dizia: “o único favor que podemos prestar à humanidade é continua-la”. Almada esqueceu-se de esclarecer as responsabilidades dos géneros. Pois elas que abram as pernas e logo saberão que favores a humanidade espera delas. Pois é assim a misantropia e o dilema de quem já nasceu cansado com a humanidade. Como viver amancebado com a espécie sem que a liberdade possível não seja comprometida. Há cinco mil anos – garantem por ai – podia se percorrer mil quilómetros sem se encontrar um bípede hoje é impossível andar um metro sem tropeçar num. A humanidade vive cercada de humanidade por todos os lados, apertada em blocos de cimento, entalado entre três lugares no autocarro a caminho do emprego, sitiada por avantesmas em salas de aula ou cantinas, e, tragédia das tragédias, encurralada num único ponto do espaço, não fiz as contas mas parece que somos 6 mil milhões e enquanto um bacilo não põe um fim a isto parece me francamente que quem põe a conversa em dia com galinhas, ao contrario de uma alma simples que o rui anuncia, é a derradeira alma, a única alma saudável num “universo” fastioso de almas terraplanadas.