quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Nada (1)

A rua de aribau de Laforet sera a momentos o escasso existencialismo espanhol, nao é apocaliptico, nem ha uma personagem que escreva uma novela em duas frases, mas compensa a minha escassa vida social com as simetrias seguras e os claro-escuros que fazem do conhecer, no sentido biblico de busca de conhecimento, um projecto eminentemente individual. Uma historia, que quase como todas, nao alimenta a virtude e nao melhora o homem, e um quase em que cabe tudo, as vitimas desconhecidas da guerra civil entre trastos, moveis, cornucopias, e a conclusao que cabe reconhecer: o desregramento de uma casa sera sintoma de um desregramento dos sentidos. Um troço da introduçao de Melchor Almargo resume: Los personajes de Nada vivieron la guerra desde el fondo oscuro de una burguesia en dramatica crisis economica y salieron de la prueba con el espiritu deformado, los sentimientos en un grado de tremenda exasperacion, los nervios rotos.

Recomendaçoes morais? nenhumas, vesuvio ja entrou em erupçao e a vida segue de modo pompeyano, havera mais ilusoes que realidade, citando Steinbeck, o moralista, e aqui, nesta comedia, o dificil é nao ceder a amargura. Tal como Verlaine tartamudeava incoerencias e maldiçoes e de vez em quando paria versos que pareciam milagres Carmen Laforet divide o universo conhecido entre um contrabandista de plebeio contrabando que toca Mozart e um pintor fracassado de maos na cabeça e olhos no chao. Uma novela que estica os limites da comedia e é entre gargalhadas que o primeiro suicida-se e o segundo que estava louco ao inicio acaba mais louco no fim. Isto deixa-me preocupado e nao augura nada de bom, para quem le Carver, Klossowski e tem tontinho como ocupaçao isto sob qualquer perspectiva estetica é melhor que Gore Vidal em ponto por ponto e uma genialidade ao pe de Werther de Goethe e Morte em Veneza de Thomas Mann. Quem diz e escreve que le, realmente le?