sexta-feira, 23 de outubro de 2009

de mala muerte (em 6 actos)

i

Garantia que a pobreza nao passava por esta transgressao - a classe media - a pobreza estava ali, debaixo da ponte. Atribui aquilo sempre a baixa escolaridade, uma reminiscencia fatalista da ditadura, a pobreza como fenomeno trascendente e totalitario. Habitua-te a ideia filho, oiço o eco.

ii

Aqui na cova, drogados, equatorianos, carteiristas, travestis. No corredor um negro - africanista? - de salto alto desfila nu para as objecitivas que nao comparecem, exibicionista. La puñetera miss nigeria. Numa epoca em que o dinheiro é a medida de todas as criaturas de deus esta é a aristocracia posivel.

iii

Posso acusar coetze de plagiar a doctorow? nao é so a relaçao marital, a desonra que nao é desonra, é depressao, ou melhor, melancolia, e melhor, a traiçao, a cumplicidade na traiçao, que nao é melancolia mas desonra.

iv

O chao velho range, la puñetera miss nigeria, a aristocracia tambem desfila.

v

Tanto em cidade de deus de doctorow como em um diario de um mau ano de coetzee ha uma relaçao desigual ainda que de poucas paginas, uma relaçao que nao funciona, em coetzee se apresentam queixas formais. Em doctorow nada, aquilo dura poucas paginas, mas tampouco parece que desta vez orfeu arrisque uma viagem a plutao.

vi

Gritos de desespero no corredor. Em outros tempos em jogo o destino da comunidade se elegia um homem para que saltara ao abismo, agora elige-se a maioria. Esta é a aristocracia possivel