quinta-feira, 24 de julho de 2008

Boas Intenções II

Não podia concordar mais consigo. Mas parece me que para lá das boas intenções há o velhíssimo espírito cristão. E o apelo de um crente para prostrar a sociedade a um ideário escasso de substancia. Os vencidos e os vencedores, os cumpridores e os criminosos, os felizes e os miseráveis todos com a fronteira traçada ali pelo meridiano materialista. De todos os ideais, o de fazer o povo feliz é talvez o mais perigoso. Está aberto a todas as abstracções. Leva ao utopismo e ao romantismo – e no fim da linha entra nos pela casa adentro para nos confiscar a liberdade e a vida. Sentem-se certos de que ninguém deixaria de ser feliz na bela e perfeita comunidade dos seus sonhos. Sejam quais forem os critérios. Seja a que preço. Qualquer leitura reduzida e subjectiva que ambiciona a arena politica confere ao bom senso, à moralidade publica, ao bom e ao mau, um valor táctico quando não a rejeita sem qualquer hesitação para dar lugar a outra. Acolhe mal algo humanamente inesgotável: o erro, a dúvida, a falibilidade, o infortúnio – enfim, as limitações e contingências de uma determinada sociedade política. Não há perfeição humana e não há receitas à priori. No fundo eles crêem que vêem a sociedade a partir do Olimpo.

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